Mensagem aos advogados, por Georges de Moura Ferreira

27/03/2007 Antiga, Notícias


 


Este artigo foi publicado na edição desta terça-feira, 27, do jornal Diário da Manhã


Goiânia hoje conta com mais de uma dezena de faculdades de direito. Contudo, essas instituições nunca foram tão questionadas pela sociedade, sobre se estariam ou não capacitando seus milhares de bacharéis a lidar com a complexa missão de administrar a Justiça.


Os acadêmicos de Direito passam menos tempo nas salas de aulas do que quando eram secundaristas e o hábito do estudo não lhes é apresentado como um ato de continuidade. As instituições de ensino superior repetem uma fórmula que se inicia no segundo grau, pois se os colegiais não ingressarem diretamente um uma faculdade, todo o teor acadêmico será revisto em um cursinho. E ao entrarem na universidade, retornam à estaca zero do conhecimento, pois nem mesmo a metodologia de estudo será de valia nessa nova etapa.


No tocante à ciência jurídica, a situação é mais constrangedora, pois não há nos colégios qualquer matéria relacionada ao Direito ou à interpretação das leis. Com essa premissa, os novos universitários de Direito, como regra, receberão seu novo aprendizado de maneira estanque, resumindo seus objetivos acadêmicos em concluir o curso o mais rápido possível. As instituições, por não estarem preparadas para atender à vocação de seus alunos, se convertem em locais de desperdício de talentos, que depois de graduados, são desligados, devendo encarar outro recomeço, muitas vezes sem terem obtido condições mínimas de se inserirem na realidade social ou mercadológica, e sem receberem a orientação para que continuem seus estudos.


Ainda assim, grande parte das escolas de Direito busca ser reconhecida sem se fazer notar na sociedade, agindo de modo contrário ao que predica a ciência, relegando um glorioso curso superior a padrões meramente técnicos. Quanto aos alunos, esses não devem esperar por mudanças. Devem agir patrocinando seu futuro, pois suas atitudes refletem no próprio espírito da instituição onde estudam e, num futuro não distante, refletirão na alma das instituições que os representa.


Na área jurídica atuam diversas entidades profissionais (Magistratura, Procuradoria, Ordem dos Advogados do Brasil etc), mas a única que se manifesta sobre os cursos de Direito é a OAB, que já exerce sua função habilitadora, através do exame de ordem. A OAB está mais próxima da realidade dos acadêmicos, que encontram na advocacia sua primeira escolha profissional. Contudo, essa é a opção mais difícil, pois o futuro profissional deverá valer-se tão-somente de seus conhecimentos para promover a defesa dos interesses de seus constituintes, o que vai muito além do simples conhecimento da lei.


O futuro causídico precisa compreender que o mesmo é a única ligação entre a população e a concretização da lei, pois ao contrário de outras profissões, o advogado provoca diretamente o poder público, obrigando este a se manifestar sobre as mais diversas questões. Entretanto, mais do que apelo vocacional, a carreira exige constante aperfeiçoamento e um trabalho contínuo de inserção mercadológica, o que deve ser cobrado pelo profissional de sua entidade de classe desde os tempos da faculdade, pois ainda antes de se formar, o acadêmico pode ingressar nos quadros da OAB como estagiário.


Sem essa contrapartida, os acadêmicos de Direito que optarem pela advocacia estarão em desvantagem em relação aos profissionais das outras áreas jurídicas, que a exemplo da Magistratura, Ministério Público etc., seguem rígidos programas de aperfeiçoamento e de atualização. Portanto, mais do que habilitar o causídico em advogar, ou de fiscalizar as faculdades, deve a OAB empregar todos os meios que possui ao menos para conscientizar os seus membros sobre a importância em se manterem atualizados, com especial atenção à contextualização dos futuros advogados sobre o que os aguarda, e onde poderão se orientar sobre suas dúvidas depois de formados, uma vez que esse trabalho não é feito pelas faculdades. Assim, poderá a sociedade sonhar com uma Justiça acessível, e os advogados, com a valorização de sua classe e profissão.


Georges de Moura Ferreira é advogado, aviador, escritor, doutorando, Especialista em Direito Civil e em Política e Estratégia, professor universitário, pesquisador, conferencista da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, Delegacia de Goiás, e professor em curso preparatório para a carreira diplomática


27/03 – 14h13

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