Mais humanidade, por Henrique Tibúrcio

16/09/2013 Artigo, Notícias

Confira o artigo do presidente da OAB-GO, Henrique Tibúrcio, publicado na edição desta segunda-feira (16) do jornal O Popular.

A recepção dos médicos cubanos no Brasil foi um episódio lamentável para a nossa história. Seja por meio de ofensas carregadas de preconceito disseminadas em opiniões na internet ou em entrevistas de líderes classistas e profissionais que se sentem “injustiçados”; ou até mesmo em manifestações de ira, como ocorreu em Fortaleza, contra aqueles que foram contratados pelo governo brasileiro para amenizar o caos na saúde.

O que vimos foi uma triste demonstração de absoluto e irracional corporativismo e desrespeito. Não pretendo me ater aos termos da contratação desses profissionais, o que é outra questão. Mas, sim, à postura dos médicos brasileiros frente ao assunto.

A precária infraestrutura dos hospitais públicos e postos de saúde, a falta de apoio aos médicos brasileiros e a sua baixa remuneração são fatos incontestáveis e precisam ser combatidos. Mas tratar seres humanos de uma forma tão vil é inaceitável.

É preciso lembrar que as vagas ocupadas por eles foram oferecidas, primeiramente, aos médicos brasileiros. Sim, muitos não querem ir para o interior do País, tampouco atender em condições precárias, é um direito de escolha. Por outro lado, é aceitável que as pessoas que vivem nesses lugares, carentes de todas as assistências a que tem direito, não recebam atendimento médico?

Segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) de 2011, dos 287.832 médicos cadastrados apenas 13% estão em municípios de até 50 mil habitantes, que correspondem a quase 90% das cidades brasileiras e contêm 64 milhões de pessoas. O Brasil avançou em diversos aspectos, mas ainda é um país subdesenvolvido. Na grande maioria dos municípios, a quantidade de médicos disponíveis é considerada baixa (menos de 2,5 médicos/1.000 hab.) pelos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). A média Brasil é de 1,5.

Além disso, não se pode ignorar a opinião pública. A pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgada na última terça-feira (10) revela que 73,9% da população é a favor da vinda de médicos estrangeiros ao país pelo programa Mais Médicos.

Não acredito que a vinda de médicos estrangeiros irá resolver a situação caótica e vexatória da saúde pública. Entretanto, pode amenizar o sofrimento e o desamparo de cidadãos brasileiros que, segundo a Constituição Federal de 1988, têm direitos iguais a qualquer outro que reside nos centros urbanos.

Ao invés de incentivar preconceito, represálias e perseguição contra os médicos estrangeiros, talvez seja hora de fortalecer a profissão, lutar pela sua valorização e respeito. Pressionar os governos estaduais e federal para investir no sistema de saúde, porque a questão é grave e exige muito mais para ser sanada.  

Afinal, qual o problema em enviar médicos estrangeiros para cidades em que os médicos brasileiros não querem ir? Falta um pouco de sensibilidade e cidadania com o próprio povo brasileiro esquecido no interior do País.

Henrique Tibúrcio, presidente da OAB-GO.

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