Discurso de Marlúcia Sousa Barros Syrio, presidente da subseção de Mineiros

09/03/2007 Antiga, Notícias

 


Discurso proferido pela presidente da subseção de Mineiros, Marlúcia Sousa Barros Syrio, nesta quinta-feira, 8, durante a abertura do XVII Colégio Estadual de Presidentes de Subseções da OAB-GO.


 


 


Senhoras e Senhores,


 


 


É com imensa satisfação que assumo essa honrosa missão de representar os nobres colegas presidentes de subseções do Estado de Goiás, neste Colégio de Presidentes, onde viemos reafirmar propósitos e unir  esforços em prol da construção de uma sociedade mais justa e igualitária,  defendermos a Justiça  e o Direito, mas sobretudo defender o advogado.


Sinto-me neste instante mais feliz ainda, porque não falo apenas com a força e a voz dos presidentes de subseções, mas também e principalmente, falo com a força e o coração da mulher.


Neste dia 08 de março, as mulheres são lembradas de forma especial. E lembrando assim da mulher doce, lembrei da grande porta voz de uma realidade interiorana. Falo de Cora Coralina e das suas palavras faço as minhas neste momento:


“Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores”


A mensagem de Cora Coralina diz muito da nossa trajetória. Faz voltar os olhos sobre a atuação das mulheres advogadas, nos faz percorrer os registros históricos e lembrar de Myrtes Gomes de Campos, primeira mulher a conquistar o “status” de advogada e a exercer a profissão no País. Foi ainda a primeira mulher a ingressar no Instituto dos Advogados Brasileiros, em uma época e em uma sociedade fortemente marcada pela exclusão da mulher dos direitos civis.


É lembrar de Maria Augusta Saraiva, primeira mulher a ingressar numa Faculdade de Direito, de Bertha Maria Julia Lutz, maior líder na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras. E tantas outras, que num passado, não muito longíguo, sofreram diversos preconceitos para abrir esse espaço que temos hoje, sem falar naquelas que tiveram suas vocações exterminadas pelo machismo que perdurou por muito tempo nesse País.


Hoje, sem sombra de dúvidas, é uma inegável oportunidade para o mergulho consciente nas mais profundas reflexões sobre a situação da mulher: sobre seu presente concreto, seus sonhos, seu futuro real. É dia para pensar, repensar e organizar as mudanças em benefício da mulher e conseqüentemente de toda a sociedade. Os outros 364 dias do ano são, certamente, para realizá-las.


Hoje, para cada mulher realizada humana e profissionalmente, um grande contingente ainda se encontra à margem de todos os processos sociais, lutando para um mínimo de cidadania. Não podemos mascarar essa dura realidade


A Ordem sempre esteve presente nessas questões, que por meio da Comissão da Mulher Advogada, tem sido parceira incondicional de ações em prol da mulher. Mas é necessário fazer mais, pois enquanto houver injustiça e discriminação no mundo, teremos muito o que fazer. Que essas ações sejam levadas também para o interior do Estado.


Solicito, portanto, a todos os presidentes de subseções que busquem dar visibilidade à questão por meio de ações nas subseções que presidem, falando a homens e mulheres deste Estado da importância de por em prática o artigo 5º, inc. I da nossa Constituição que diz: “Todos são iguais perante a lei”.


Não vou repetir os dados já conhecidos, que dizem respeito à violência contra a mulher, mas são assustadores.


Vale citar, o quanto ainda permeia a discriminação nessa seara, que vimos constantes ataques à recém criada Lei 11.340 – denominada Lei Maria da Penha.  Que segundo a Desembargadora Maria Berenice Dias, em artigo intitulado “A violência doméstica na Justiça”, publicado em 21/09/2006: “Ela foi recebida da mesma forma que são tratadas as vítimas a quem protege; com desdém e desconfiança”.


Há uma insistente e injustificável resistência em aplicá-la.


Infelizmente, a discriminação é ainda uma realidade das mulheres, seja no trabalho, seja na política, seja na Família.


No plano corporativo, devo afirmar que a nossa trajetória de participação da mulher nos cargos diretivos da Ordem tem sido tímida. A categoria não é mais composta em sua maioria por homens, pois advogados e advogadas estão praticamente com a mesma participação no universo da advocacia.


No entanto, a participação da mulher nos órgãos de direção da OAB não corresponde a sua forte presença na advocacia. Mas esse cenário está mudando e é preciso ocorrer mesmo essas transformações.


Antes que tirem conclusões precipitadas, devo dizer também que nossos caminhos são mais tortuosos. Temos uma rotina de peso, casa, família, trabalho. A mulher nem sempre poderá ter dedicação exclusiva à profissão em razão da maternidade e de outros afazeres, igualmente importantes. Não é fácil dividir isso. Mas, vejo que a OAB, com a macrovisão dos seus dirigentes vai repensar o plano político classista da instituição.


De outro lado, devemos nós, lutar para atingir um melhor percentual da nossa participação, demonstrando que somos guerreiras, mas guerreiras não para confrontos, e sim para somar forças ante os desafios atuais.


Devemos primar pela preservação do pluralismo como forma de convivência harmoniosa;


As mulheres, ao longo de sua carreira profissional, vêm construindo não somente histórias de trabalho, mas também exemplos de determinação e sucesso, contribuindo com o crescimento da nossa nação. 


Temos anseios tanto quanto os homens de buscar realização profissional, salário e identidade no mercado de trabalho, de respeito e compreensão. Afinal somos diferentes, mas não desiguais. Nossas diversidades nos enriquecem e certamente nos faz mais fortes.


Senhor presidente, viemos de longe, vencendo distâncias e estradas tortuosas para voluntariamente com outros colegas de igual, repensarmos a nossa profissão, o mercado de trabalho, a proliferação dos cursos jurídicos, o direito, a justiça.


Estamos certos que a seriedade com que tem conduzido os destinos da Ordem e diante da grandeza de seu talento travaremos nesses três dias de trabalho a corajosa batalha em favor da advocacia goiana, trocaremos informações e apresentaremos propostas para otimizar o exercício da profissão. Precisamos defender o direito. Precisamos defender a Justiça. Mas precisamos, antes de qualquer coisa, defender o advogado; porque sem este, ruirá todo o sistema democrático, sucumbirá a liberdade.


Nós conhecemos e estamos a participar da administração da Ordem, que traz uma história de grandes realizações, conquistas importantíssimas seja no campo institucional seja no campo classista, a demonstrar com segurança que o sucesso se repetirá. Temos plena convicção disso.


Senhor presidente é nítido a sua preocupação em administrar bem a Ordem, com transparência e seriedade, em defender e valorizar o advogado e a advogada do nosso Estado, garantir as nossas prerrogativas.


Isso está claramente comprovado na cobrança do pagamento dos honorários devidos aos advogados que prestam assistência judiciária às pessoas que dela necessitem. No atendimento e ampliação dos serviços e benefícios da Caixa de Assistência dos Advogados, tanto aqui em Goiânia, como no interior. Na realização de atividades culturais e aperfeiçoamento profissional aos advogados, promovendo palestras, cursos seminários, através da Escola Superior da Advocacia. No aparelhamento das salas e sedes das Subseções proporcionando aos advogados melhores condições no exercício profissional.


Enfim, são inúmeras as realizações. Portanto, temos muito a comemorar, podemos nos orgulhar de pertencer a essa instituição forte que nos protege como as mães protegem seus filhos;


Para encerrar, quero parabenizar todas as minhas colegas advogadas e as companheiras mulheres que, no lar, no campo, nas repartições públicas, nas fábricas e nas ruas, dignificam o seu status e lutam cada vez mais por uma sociedade justa e igualitária.


Quero agradecer ao meu esposo Alexandre e aos meus filhos: Lorena, Jarbas Neto e Vítor pelo incentivo e apoio incondicional de todos os dias. A nossa união transcende a barreira do tempo.


E, finalmente, quero agradecer a Deus por esse momento tão especial. Rogo a Maria de Nazaré, a maior de todas as mulheres e mãe de todos nós, as suas bênçãos, que o teu manto sagrado cubra nossa instituição, dando a todos nós, ânimo E coragem para prosseguir na luta, paz para o enfrentamento das injustiças e perseguições e amor para combatermos o ódio, pois somente o amor pode transpor barreiras e extinguir preconceitos, vencer o orgulho e a vaidade, males que destroem a humanidade.


Muito Obrigado.


 


09/03 – 13h40

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