Ouvidora Layla Oliveira Gomes destaca importância da escuta qualificada e da interseccionalidade no enfrentamento à violência contra a mulher

30/10/2025 Notícias

  A ouvidora-geral e da mulher da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), Layla Oliveira Gomes, participou na manhã desta quinta-feira, dia 30 de outubro, do VI Encontro do Colégio de Ouvidorias Judiciais da Mulher. Sediado no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), o evento reuniu representantes da advocacia, do Judiciário e de ouvidorias de todo o país para discutir o tema “Boas Práticas da Ouvidoria Nacional da Mulher”.

O encontro contou ainda com a palestra da ouvidora nacional da OAB, Katianne Wirna, sobre as boas práticas da Ouvidoria Nacional da Mulher, e foi mediado pela desembargadora Tânia Reckziegel, oriunda do Quinto Constitucional e presidente do Colégio de Ouvidorias Judiciais da Mulher.

Durante sua fala, Layla apresentou dados da Pesquisa Nacional de Violência Doméstica contra a Mulher (2023), que apontam um cenário alarmante: 9% das mulheres entrevistadas foram vítimas do crime de perseguição (stalking) e, entre as vítimas de violência, 64% são mulheres negras, contra 29% brancas, 4% amarelas e 2% indígenas.

“Esses números mostram a necessidade de adotarmos um olhar interseccional nas políticas públicas de enfrentamento à violência. As mulheres negras são as maiores vítimas e vivem realidades diferentes. Precisamos tratar essas diferenças com seriedade para garantir equidade no acesso à Justiça”, ressaltou.

A ouvidora alertou ainda para a naturalização social da violência, citando episódios públicos de incitação à agressão contra a mulher, e destacou que mais de 70% das vítimas não buscam o Estado, muitas vezes por descrença ou medo de não serem acolhidas.
“Estamos falando de um cenário em que milhares de mulheres são violentadas todos os anos, e mais de mil foram assassinadas apenas em 2024. É urgente fortalecer os canais de escuta e acolhimento”, afirmou.

Atendimento humanizado e escuta qualificada

Com atuação na área desde 2016, Layla enfatizou a importância da escuta qualificada e do atendimento presencial como instrumentos fundamentais da Ouvidoria da Mulher. “Faço questão de atender presencialmente pelo menos uma vez por mês, porque o olho no olho faz toda a diferença. Esse contato direto gera confiança, acolhimento e sensação de pertencimento. É nesse espaço que muitas mulheres, pela primeira vez, se sentem verdadeiramente ouvidas”, destacou.

A advogada também defendeu o fortalecimento da rede entre ouvidorias, academia e instituições públicas, para promover capacitação contínua e consolidar a Ouvidoria como um canal democrático, acessível e transformador.

“A Ouvidoria da Mulher da OAB é, muitas vezes, o primeiro e único espaço de acolhimento dessas mulheres. Nosso compromisso é garantir que toda mulher seja ouvida com respeito e tenha acesso real à Justiça”, concluiu Layla.

Mulheres ouvidoras

Em sua sala, a desembargadora Tânia reforçou a importância de que as instituições mantenham um olhar atento, humanizado e contínuo sobre as demandas das mulheres. Segundo ela, a escuta qualificada é um instrumento de transformação social e deve ser exercida com empatia e propósito.

“Ouvir é um ato de acolhimento e também de justiça. Quando as mulheres são ouvidas com respeito e atenção, o sistema de direitos se fortalece, e o Estado cumpre sua função de garantir dignidade e voz a todas”, destacou.

Encerrando o painel, a ouvidora Katianne ressaltou o papel estratégico da OAB na interiorização das ouvidorias e na criação de uma rede nacional de apoio e conscientização.

“A ouvidoria é uma missão que vai além de cargos ou nomeações. É sobre propósito, sobre enxergar a mulher e criar pontes reais entre as suas dores e as soluções institucionais. A presença da OAB nesse diálogo é essencial para garantir que nenhuma mulher caminhe sozinha”, finalizou.